Você faz chicote de calcanhar?

 

O chicote de calcanhar nada mais é que uma rotação medial (para dentro) ou lateral (para fora) do calcanhar em relação à linha média do corpo, que ocorre na transição da fase de apoio para a fase de balanço.


Tradicionalmente a análise da corrida se concentra na fase de apoio da marcha, quando o pé está no chão, o qual é possível identificar alterações biomecânicas como queda da pelve, valgo dinâmico, queda do arco plantar e inclinação do tronco, no qual cada um deles pode estar ligado ao desenvolvimento de lesões por uso repetitivo, e é o momento em que as forças atuantes são muito maiores em comparação as forças que ocorrem durante a fase de balanço, que é quando o pé sai do chão. 

Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Francisco, realizaram um estudo com 256 corredores recreativos (tanto corredores não lesionados quanto lesionados) e identificaram uma falha de movimento interessante que geralmente não é reconhecido e que pode ser importante, o qual eles descrevem como "Heel Whip” ou “chicote de calcanhar" no qual foi possível identificar que:

1- Mais da metade dos avaliados tinham chicote de calcanhar superior a 5 graus, sendo que o ângulo de inclinação do calcanhar menor que 5 graus é considerado neutro / normal; 

2- Corredores com excesso de peso (IMC> 25) tiveram o dobro de chicotes de calcanhar medial em comparação ao chicote de calcanhar lateral, podendo ter diferenças na velocidade do calcanhar entre o lado direito e o lado esquerdo, em comparação com indivíduos com peso normal e abaixo do peso; 

3- Corredores do sexo feminino foram duas vezes mais propensos a demonstrar um chicote calcanhar lateral com mais de 8,9 graus. 

Acredita-se que o chicote de calcanhar esteja relacionado a lesões devido à redução da flexibilidade e/ou força na articulação do quadril, causando assim aumento das forças de torção na perna. Essas informações corroboram com os pesquisadores da Universidade de Drexel, que mediram a força de torção associada ao chicote do calcanhar durante a corrida, e este foi capaz de prever 66% dos casos de fratura por estresse da tíbia em corredores. Outros pesquisadores relataram que o chicote de calcanhar estava relacionado a pronação do pé em corredores saudáveis. Portanto, pode-se especular que o chicote de calcanhar severo pode ser um indicador para a mecânica de corrida ruim que coloca corredores em risco de lesão.

Apesar da mecânica do chicote de calcanhar ser complexa e variada, necessitando de mais pesquisas e evidências para mostrar relação entre ela e as lesões, ao identificar que você corre com esta mecânica de forma rápida, severa e assimétrica entre os membros, esta merece uma investigação mais profunda. Na dúvida, procure sempre a ajuda de profissionais especializados no assunto para cuidar de você, planejando seus treinos, trabalhando na prevenção ou até mesmo no tratamento das lesões!